O presidente da República, Santiago Peña, instruiu uma luta "implacável" contra o crime organizado e principalmente em relação ao tráfico internacional de armas. Após um procedimento realizado em uma casa comercial localizada em Assunção, que aparentemente vendia armas legais para militares e policiais, que posteriormente foram desviadas para gangues criminosas no Brasil.
Neste contexto, Peña recebeu o Ministro da Defesa Nacional, Oscar González, bem como as autoridades da Direção de Material de Guerra (Dimabel) e das Forças Armadas, a fim de conhecer os procedimentos promovidos no âmbito das investigações de um suposto esquema de desvio de armas de uma casa comercial localizada em Assunção ao crime organizado.
"O Governo com isto deixa uma mensagem clara de ser implacável no combate ao crime organizado, essa é a instrução que recebemos do Presidente da República", explicou o ministro da Defesa.
Intervenção em casa comercial
Nesse sentido, o diretor da Dimabel, Melanio Servín, relatou uma intervenção realizada na casa de venda de armas comercial chamada "Gunner", localizada no bairro de San Cristóbal, em Assunção, após um alerta recebido de seu banco de dados.
O modus operandi descoberto revelou uma aparente venda legal de armas para militares e policiais, que mais tarde foram desviadas para o crime organizado.
A investigação de Dimabel sugere que esta casa comercial poderia ter sido um nexo para o tráfico internacional de armas. Durante a operação, foram apreendidas diversas armas e munições, que permanecerão sob custódia da instituição.
Nesse contexto, lembrou que a Lei nº 4036/10 confere a Dimabel o poder de realizar procedimentos administrativos em caso de presunção de violação da referida legislação.
Negócio milionário
Nesse sentido, especificou que desde a quinzena de julho deste ano e até o momento, apreenderam 100 armas que teriam sido entregues ao crime organizado, que teriam um valor comercial de 1.000 milhões de guaranis, mas que para venda a criminosos chegariam a cerca de 5.000 milhões de guaranis.
"Isso consistia em que os recrutadores convencerem essas vítimas a se prestarem para remover as armas, o que, estando uniformizado, não chamaria a atenção, então eles começaram a comprar essas armas até que isso saltasse. Os envolvidos foram convocados pela instituição para prestar depoimento, onde reconheceram o fato, todos esses administrativos foram enviados nas próximas horas ao Ministério Público", detalhou Servín.
Ele especificou que os soldados envolvidos são de patentes inferiores e que teriam recebido somas entre 500.000 e 800.000 guaranis pela retirada das armas das casas comerciais, que posteriormente foram dadas como perdidas, mas na realidade foram entregues a facções criminosas no Brasil. Este esquema envolve 55 policiais e 46 militares.
"É a maneira pela qual a atividade ilícita é lavada. A lei estabelece que quando uma arma é perdida em 24 horas o proprietário deve denunciá-la à Polícia e um prazo máximo de 72 horas a Dimabel, eles não cumpriram isso e para não chamar muita atenção deixaram passar entre 7, 15 a 30 dias", explicou.
O chefe militar sênior disse que todas as casas comerciais serão inspecionadas em sua totalidade. "Começamos o ano com 136 importadores e casas comerciais dedicadas à venda de armas e atualmente temos 80, a tendência é que como há controles por parte da instituição, esse número diminua", previu.
Ele ressaltou que a prioridade do governo é tornar transparente tudo relacionado à comercialização de armas, munições e explosivos.
Declarações juramentadas para armas para uso pessoal
Por outro lado, o comandante das Forças Armadas, César Moreno, informou que depois de tudo o que foi dito por Dimabel, todos os membros das Forças Militares foram obrigados a apresentar uma declaração juramentada sobre a posse de armas para uso privado, a fim de identificar o número de armas que os militares possuem.
"Essa ordem foi dada na sexta-feira e o que nos chamou a atenção é que até sábado, seis militares apresentaram denúncias de perda de armas em diferentes delegacias, até o momento já temos 20 denúncias de perda dos 100 policiais uniformizados que já apresentaram suas declarações", disse.
O general Moreno esclareceu que as ligações para Dimabel estão sendo feitas em turnos, dependendo das unidades a que pertencem.
"Estamos baixando uma linha de que seremos implacáveis, ou seja, não vamos perdoar esse tipo de irregularidade, seja policial ou militar, essa mensagem vai para os cidadãos, mas principalmente para os uniformizados", disse o ministro Oscar González.
Fonte: IP