Na última segunda-feira (15) um voo da Air France que partiu do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulos, rumo a Paris, demorou muito mais do que o previsto para chegar ao destino: um tripulante passou mal quando o Airbus A350-900 XWB sobrevoava o estado de Minas Gerais e a aeronave realizou um desvio para o Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro.
No dia seguinte foi a vez de um piloto da LATAM passar mal durante o voo LA-3744 que ia de Brasília para João Pessoa. O piloto remanescente declarou emergência e desviou para Salvador, onde o Airbus A320 pousou em segurança e, horas depois, seguiu para a capital paraibana. Em nota, a LATAM afirmou que seguiu todos os protocolos previstos para esse tipo de situação e reitera que adota todas as medidas de segurança possíveis, técnicas e operacionais, para garantir uma viagem segura para todos“.
Nem a LATAM, nem a Air France detalharam o tipo de emergência ocorrida, como forma de preservar a privacidade de seus profissionais.
Esse tipo de ocorrência, embora raro, é chamado na aviação de 'piloto incapacitado' (pilot incapacitation). Incapacitação do Piloto é o termo utilizado para descrever a incapacidade de um piloto, integrante da tripulação operacional, de desempenhar suas funções normais devido ao aparecimento, durante o voo, dos efeitos de fatores fisiológicos. A morte de um tripulante a bordo também se configura como um tipo de incapacitação em voo.
O Instituto Aeromédico da Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA), estudou o tema por anos. A pesquisa divulgada em novembro de 2022, intitulada 'Monitoramento Médico do Piloto: revisão do estado da ciência sobre identificação de incapacitação de pilotos', aponta que entre as principais causas estão problemas gastrointestinais, infarto, ataque epilético, derrame, falta de sono e hipóxia.
Based on information from the literature, MITRE CAASD focused on the following
incapacitation events for this paper:
? sudden cardiac death
? epileptic seizure
? stroke
? sleep
? hypoxia
? acute pain
Em voos domésticos, como o da LATAM, são dois tripulantes na cabine de comando: o comandante e o copiloto, também chamado de 'primeiro-oficial'. Antes do voo, se determina quem será o 'Pilot Flying' (PF), ou seja, o profissional que ficará no comando das manobras da aeronave, e o 'Pilot Monitoring', que se encarregará das comunicações via rádio, além de monitorar o voo e auxiliar o PF e preencher eventuais formulários técnicos, como a navegação. Essa divisão de atribuições se dá para evitar confusão e ficar claro sobre quem faz o quê.
Quando um dos pilotos apresenta um problema de saúde, a primeira providência a ser tomada pelo piloto remanescente é assumir ou permanecer no comando operacional do avião e convocar o chefe dos comissários na cabine para ajudar o piloto adoecido, colocando-o em um assento mais confortável, por exemplo. Na sequência, o piloto chama o Controle de Tráfego Aéreo e declara a emergência. É quando se combina com o controle para qual aeroporto o avião irá se dirigir, com total prioridade em sua rota.
"Isso é treinado sempre nos simuladores. Inclusive, é uma das situações também treinadas em voo, com a supervisão de um instrutor, obviamente", explica o comandante e instrutor de linha aérea, Fernando Pamplona.
Em situações de emergências como essas, o comissário chefe de cabine faz um anúncio para saber se existe algum médico a bordo para que um primeiro atendimento profissional seja dado ao tripulante incapacitado. O comissário também verifica a possível presença de algum piloto da companhia que possa estar viajando como passageiro, para auxiliar o piloto remanescente.
"O detalhe é que esse eventual piloto identificado não deve assumir o posto do piloto que passou mal, mas apenas auxiliar o piloto remanescente com um ou outro procedimento, como atuar na fonia (comunicações via rádio), por exemplo", diz o também comandante e instrutor de linha aérea, Fábio Castilho.
"Diante da emergência médica, o pouso no aeroporto mais próximo se torna necessário", acrescenta Castilho, ressaltando que toda a coordenação da companhia aérea deverá ser feita para que uma equipe médica do aeroporto esteja pronta para receber o colega que teve o problema de saúde a bordo.
Esta operação de busca por atendimento se dá também quando a ocorrência envolve um passageiro que esteja com emergência médica.
"O principal do treinamento da tripulação é focar no controle da ansiedade de quem está no comando e prepará-lo para lidar com a dor e o sofrimento do colega", diz o comandante Fernando Pamplona, que destaca:
"A ênfase está no compromisso com a função, com todas as outras pessoas que estão a bordo e com a boa gestão da operação. Agindo assim, o resultado sempre resultará no melhor para todos".
Fonte: R7